É muito comum os filmes, séries, novelas e noticiários, em geral, falarem sobre a profissão de acompanhante sempre pelo lado negativo, sofrido, com o estigma da mulher que precisa aceitar tudo, pois está sendo paga para isso.
Existem poucos conteúdos atualmente que conseguem trazer uma imagem da profissão que seja, de fato, digna de inspiração. No entanto, é possível encontrar inclusive em cenário brasileiro. Em 2013, um canal de televisão brasileiro pegou carona no sucesso Bruna Surfistinha e lançou a série O Negócio.
Vou te mostrar nesse artigo alguns motivos para você não perder (de jeito nenhum) a oportunidade de assistir a essa série que vai te acrescentar muito como profissional.
Do que se trata a história da série
“O Negócio” é uma das melhores produções de séries brasileiras, segundo alguns sites especializados nesse tipo de crítica. Do início ao fim consegue manter uma coerência no desenrolar da história, que se passa em São Paulo.
São três lindas acompanhantes, vivendo o mesmo estilo de vida, mas com propósitos diferentes. Karin, interpretada pela atriz Rafaela Mandelli, é a personagem foco da trama e passa todas as temporadas com uma missão: normalizar a profissão sem a hipocrisia da sociedade. Um caminho árduo por sinal.
Ela e as amigas vivenciam diversas situações comuns desse meio como esconder, o tempo todo, o trabalho da família, ter dificuldade em se relacionar, lidar com colegas desleais, etc.
A personagem da Rafaela é uma acompanhante visionária, que deixa o ambiente das boates para começar a empreitada de trabalhar por conta própria, sem depender dos cafetões ou bookers (como é chamado na parte rica do mercado) que vivem da exploração.
Para isso, ela passa a estudar marketing e administração, e acaba fazendo uma sociedade com as amigas para testarem estratégias e identificar o que funciona melhor nesse mercado.
Depois de muito sufoco conseguem criar a Oceano Azul, que se destaca no mercado, recebe apoio financeiro de outros sócios, que se juntam ao negócio e fundam um clube de grife. Mas Karin é muito ambiciosa e não se conforma apenas com o clube frequentado pela nata da cidade.
Na saga ela herda um terreno muito bem centralizado e deseja construir ali um prédio enorme com todo o comércio relacionado ao mercado do sexo.
Enquanto isso, a personagem Luna, a narradora durante todas as temporadas, desenvolve seu romance atrapalhado com um vigarista que conheceu em uma escola para herdeiros da elite, onde ela frequenta para tentar descolar um marido rico e um namorado falso para apresentar a família.
Já a Magali, que compõe o trio de acompanhantes (mas que na terceira temporada torna-se um quarteto) só quer viver a vida adoidada, e se mete inclusive em um relacionamento polígamo.
O que aprender com a série?
Ainda que elas façam por dinheiro, pelo estilo de vida luxuoso e confortável, sem muita rotina, todas elas são dedicadas com seus clientes. Cuidando até dos pequenos detalhes, como não usar perfumes fortes para que não fique marcado na roupa do cliente.
Outro ponto interessante é como elas se vestem. A composição dos looks por todas as quatro temporadas tem uma pegada bem elegante, roupas claras, leves e maquiagem também bem sútil.
A imagem das três na série é pensando para dar essa ideia de que acompanhantes são mulheres comuns na sociedade e que também sabem se vestir bem e sem vulgaridade. Como costumo dizer as minhas colegas e iniciantes, você não precisa utilizar roupas extravagantes e extremamente sensuais o tempo todo, se não for sua vontade.
Outra questão para se observar é como elas estão o tempo todo pensando em se diferenciar no mercado. O próprio nome da empresa Oceano Azul significa mercado inexplorado. Isso quer dizer que o objetivo é trabalhar o marketing na profissão de forma com que saiam do óbvio.
Aí está o ponto que acredito ser mais relevante aqui: Em um nicho onde aparentemente parece fácil arrumar clientes, pois o pensamento comum dos mais leigos é que clientes estão a procura de um belo rosto e um corpo escultural, beirando seus vinte anos.
O mercado do sexo pago não é sobre sexo, é sobre personalidade ou como diz Frank Underwood na série House Of Card, “Tudo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder”.
Dessa óptica, os acompanhantes atuais precisam entender, quem ainda não entendeu, que não é mais somente sobre corpo, é sobre quem tem conteúdo.
Lembra quando os pais diziam que “até para varrer rua tem que ter estudo”? Quem não é dessa geração talvez não vá entender a necessidade de manter-se estudando, lendo, investindo em cultura própria. Esse mercado adora mulheres e homens inteligentes, é isso que seduz.
Em determinado ponto da série, as meninas percebem que além de aprender a conseguir clientes exclusivos, elas precisam também aprender a mantê-los frequentando o clube. É o que chamamos, na nossa realidade, de “clientes fixos”. Aqueles que uma vez por mês ou a cada quinze dias, estão agendando horário.
Uma frase muito real dita na série nos deixa um questionamento necessário para manter nosso negócio é “como fidelizar clientes que não são fieis nem as suas esposas?”. E é aqui onde cada acompanhante precisa pensar no seu diferencial.
No geral, os episódios nunca trazem os problemas com os próprios clientes, a falta de educação, de compromisso quando agendam e não comparecem, aqueles que querem beber a mais durante o atendimento, ou que pedem para fazer sem preservativo.
Todavia, séries que mostram esse tipo de realidade tem muitas por aí para quem quer conhecer o outro lado, mas em O negócio, o objetivo é aprender sobre marketing nesse nicho específico e nesse quesito, os criadores permaneceram com a essência até o final. Vale a pena a maratonar.
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