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A importância de me assumir como acompanhante

A importância de me assumir como acompanhante

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Redação Frida Carla

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a importância de me assumir como acompanhante, por Frida Carla

Foi necessário dezoito anos no exercício do trabalho sexual para eu compreender que fazia parte de um grupo social, com história de lutas políticas e justas reivindicações. Aprender também que a minha profissão, de acompanhante, é um trabalho possível e reconhecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego no Brasil, ainda que esteja inserido num rol de trabalhos precários, e colocado à margem da sociedade, como tantos outros.

E é com esse trabalho que eu construí a minha vida e venho sobrevivendo nos últimos vinte e três anos. Inclusive, foi como acompanhante que eu custeei a minha primeira graduação em direito numa universidade privada e cursei um mestrado sem bolsa de estudos na Universidade do Estado da Bahia, em pleno período pandêmico. Atualmente, estou cursando minha segunda graduação em pedagogia e caminhando para o ingresso no doutorado, tudo isso em pleno exercício do trabalho sexual, no auge dos meus 42 anos.

Hoje, eu me enxergo como uma mulher que reconstruiu a própria identidade a partir do reconhecimento e valorização da minha história; acredito que esse foi o primeiro passo, e assumir o meu trabalho foi parte fundamental. Diante disso, considero que o conhecimento adquirido é o meu maior patrimônio, pois sem conhecimento eu jamais teria consciência do contexto social em que estou inserida desde os dezoito anos de idade.

Acredito que todas nós, mulheres que exercemos o trabalho sexual, devemos e merecemos ter um caminho de oportunidades e escolhas profissionais. E é com base nesse pensamento que eu venho buscando diariamente a construção de um caminho com oportunidade e escolhas, evidenciando que é possível, nós trabalhadoras sexuais, ocuparmos outros espaços sociais enquanto ainda exercemos o trabalho sexual. Não é fácil, sobretudo pelo estigma diário que enfrentamos, por isso a importância em ter o conhecimento necessário para combater os estigmas e todo tipo de preconceito à nossa profissão.

Todo esse relato é justamente para inspirar e demonstrar para outras mulheres que, assim como eu, não correspondem às expectativas da sociedade, por não se encaixarem nos padrões morais femininos ao exercerem uma profissão estigmatizada. O trabalho sexual é tão digno quanto qualquer outro, precisamos ter essa consciência para continuar lutando, por mim, por você e por todas nós, inclusive por aquelas que ainda vão ingressar na profissão de acompanhante.

Gostou do texto? Conheça a autora, Frida Carla

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