Entre todos os desafios que nós, acompanhantes, enfrentamos, lidar com propostas de casamento ou de emprego, feitas por clientes, são algumas delas. Não que isso seja algo ruim, a menos que o pensamento por trás desse impulso acompanhe a premissa que acompanhantes precisam ser salvas dessa vida.
Nesse artigo, apresento alguns argumentos, com base na minha trajetória de acompanhante, pelos quais não se deve propor salvar esses profissionais.
Um emprego melhor
Quando eu tinha apenas três meses como acompanhante conheci um executivo paulista, que estava em minha cidade a trabalho. Logo no primeiro contato ele me convidou para almoçar, antes de irmos ao motel para o atendimento e, passado aquele momento, continuamos a manter contato. Alguns dias após o encontro, ele me ofereceu um emprego na empresa que trabalhava, alegando que era uma oportunidade melhor para mim.
Eu poderia ter largado a minha recém profissão naquele instante e, ter aceitado um cargo administrativo, com um salário provavelmente igual ou menor ao qual eu já estava ganhando como acompanhante, teria a segurança de uma carteira assinada, um trabalho estável, moralmente aceito, e ainda estaria perto do homem pelo qual estava me apaixonando.
Naquele momento, alguém de fora desse meio poderia dizer que eu estava louca em recusar tal oferta, mas não era aquilo que eu tinha planejado para minha vida. Não queria a minha liberdade ceifada ou controlada por outra pessoa ou empresa. A ideia de entrar do ramo de acompanhante nunca foi por falta de opções profissionais, eu tinha currículo para isso, aliás, um ótimo currículo.
Formação acadêmica, duas especializações na área, cinco anos de experiência em sala de aula e mais quatro em comércio. Oportunidades em empregos “normais” nunca me faltaram, não seria aquela proposta que me salvaria do caminho que decidi vivenciar. Eu não estava a procura de emprego, estava a procura de liberdade e novas experiências.
Depois desse convite, ainda vieram mais algumas propostas do tipo “eu banco você” com o intuito de me tirar “dessa vida” e me transformar numa mulher financeiramente dependente.
Salvas da indignidade
Assim como eu, muitos acompanhantes, independente do gênero, recebem propostas para se tornar amantes exclusivos de homens, normalmente, casados e mais velhos que acreditam que seu poder aquisitivo pode comprar tudo, ou que podem virar uma espécie de “super-herói” de acompanhantes.
Não se ouve falar de profissionais como professoras, trabalhadoras comerciais, operadoras de marketing, reclamando de propostas para serem salvas dessa vida, sabe por que? Porque socialmente é um trabalho digno e ninguém precisa ser salvo da dignidade, não é mesmo!?
Tudo bem ter um salário que mal paga as contas, sair de madrugada de casa e voltar só a noite dentro de um ônibus, que muitas vezes parece mais uma lata de sardinha, ou então passar duas horas no trânsito para voltar para casa, lidar com chefe mal-humorado, não ter liberdade nenhuma para sair e resolver um problema durante horário comercial, desde que seja “digno”.
Essa é a visão daqueles que acham que pessoas como nós, precisam ser salvas seja por um emprego, casamento ou ainda por uma religião.
Por que querem nos salvar?
Em muitas pessoas, existe uma necessidade de ajudar os outros sem esperar nada por isso, mas em inúmeras outras, principalmente nos homens, o interesse em ajudar está apenas disfarçando o desejo de posse. Fato que, muitas dessas propostas surgem embutidas do pedido de exclusividade, ou seja, te dou uma vida confortável desde que você esteja disponível apenas para mim e quando eu desejar.
Muitos veem em acompanhantes a imagem de alguém que está disposta a qualquer submissão por dinheiro, vindo da crença que se aceitamos sexo por dinheiro, aceitaremos qualquer coisa. Não é o desespero financeiro que move esse mercado, caros leitores. Conforme eu já mencionei nessa coluna outras vezes, existe sim aqueles que estão nesse meio exclusivamente por isso, mas não é a maioria.
Além daqueles que possuem o desejo de ter um brinquedinho sexual exclusivo, há também outros que acreditam que, tirar um profissional do sexo desse mercado é como fazer uma obra de caridade, ou que lhe propondo casamento é uma maneira de garantir o “felizes para sempre”, pois suprindo suas necessidades financeiras, lhe garantirá fidelidade ou gratidão eterna.
É claro que nesse meio profissional existe aqueles ou aquelas que estão dispostos à propostas de fidelidade ou exclusividade, e tudo bem. Quem aceita, seja porquê precisa ou por desejar, não há problema, apenas não generalize.
Escolhemos ser livres
Há diversos motivos pelo qual escolhemos ser acompanhantes e, são bem subjetivos, mas não há dúvidas que um interesse em comum é a liberdade do nosso tempo. Nesse sentido, não precisamos de ajuda, de pena ou de benevolência. A nossa dignidade não está pautada nas crenças religiosas, trabalhistas ou morais, nossa dignidade está pautada em respeito. Respeitem nossas escolhas.
E você, já se viu diante dessa situação? Conte para mim nos comentários.
Semanalmente eu trago para o blog reflexões sobre o universo de Acompanhantes, como: Me tornei acompanhante e agora?
Se você gosta da temática, deixo aqui o meu convite para visitar a minha coluna semana que vem.
Até mais!